Já é considerado o conflito mais violento entre israelitas e palestinianos dos últimos sete anos, mas este sábado a escalada intensificou-se quando Israel destruiu um proeminente edifício da cidade de Gaza, que albergava vários órgãos de comunicação social estrangeiros, como a Associated Press e Al Jazeera. O ataque, cujas razões continuam por clarificar, aconteceu uma hora depois de os militares terem avisado o proprietário de que iam atacar o edifício, ordenando a sua evacuação.
Ao início da tarde deste sábado, as Forças Armadas israelitas avisaram que iriam bombardear o edifício que alberga meios de comunicação estrangeiros e ordenaram a sua evacuação.
Numa mensagem em hebraico, publicada no Twitter, lê-se: "O exército israelita dá uma hora para evacuar o prédio que abriga escritórios de imprensa internacionais, incluindo a Al Jazeera".
Considerado um ataque à capacidade dos media reportarem o que se passa no território, o bombardeamento ocorreu cerca de uma hora depois do aviso.
APNewsAlert: GAZA CITY, #Gaza Strip (AP) - Owner of Gaza high-rise that houses @AP office says army warned it would target building.
— Jon Gambrell جون (@jongambrellAP) May 15, 2021
"As bombas podem cair sobre o nosso escritório. Subimos as escadas do 11.º andar e estamos agora a olhar para o edifício de longe, rezando para que o exército acabe por recuar", colocou Fares Akram, correspondente da AP em Gaza, na sua página no Twitter, pouco antes do ataque.
And now bombs could fall on our office. We ran down the stairs from the 11th floor and now looking at the building from afar, praying Israeli army would eventually retract. https://t.co/WU2eLEX7kn
— Fares Akram (@faresakram) May 15, 2021
Segundo Al Jazeera, o exército de ocupação israelita deu uma hora para que o edifício onde estão os escritórios da imprensa internacional, entre outros escritórios, lojas e apartamentos residenciais, fossem evacuados. Terminado esse prazo, engenhos lançados por aviões destruíram por completo o prédio, relata a mesma fonte.
Não há ainda explicações para as razões que levaram Israel a atacar aquele prédio, mas a Associated Press chama-lhe "o mais recente passo para silenciar os relatos" a partir do território palestiniano.
Ao New York Times, as Forças de Defesa de Israel afirmaram que destruiram o edifício porque muito equipamento militar do Hamas se encontrava no edifício, onde os profissionais dos meios de comunicação estavam a ser utilizados como "escudos humanos".
A Casa Branca já reagiu ao ataque desta tarde e advertiu Israel de que garantir a segurança dos jornalistas é "primordial", após uma investida israelita ter destruído o edifício que albergava vários meios de comunicação em Gaza.
"Dissemos diretamente aos israelitas que garantir a segurança dos jornalistas e dos meios de comunicação independentes é uma responsabilidade de importância crítica", disse a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki.
Através de uma declaração, a AP manifestou-se "chocada e horrorizada"” com o ataque israelita, que destruiu a torre que albergava os seus escritórios e os da Al Jazeera, em Gaza, que classificou de um "desenvolvimento incrivelmente inquietante".
"Estamos chocados e horrorizados com o facto de os militares israelitas terem atacado e destruído o edifício que alberga o escritório da AP e outros meios de comunicação em Gaza", disse o presidente da agência norte-americana de notícias, Gary Pruitt.
"Há muito que conhecem a localização do nosso escritório e sabiam que os jornalistas estavam lá. Fomos avisados de que o edifício seria atingido", acrescentou. "Este é um desenvolvimento incrivelmente perturbador. Evitámos por pouco a terrível perda de vidas. Cerca de dez jornalistas e 'freelancers' da AP estavam no edifício e, felizmente, conseguimos retirá-los a tempo".
Pruitt referiu que a AP solicitou informações ao governo israelita e que está em contacto com o Departamento de Estado norte-americano para tentar saber mais.
"O mundo estará menos informado sobre o que está a acontecer em Gaza por causa do que aconteceu hoje", concluiu.
Por seu lado, o chefe do gabinete da Al Jazeera na Palestina e em Israel classificou este ataque como um "crime" e uma tentativa de o exército israelita "silenciar os media".
Falando em direto no canal de notícias em língua árabe, o chefe do gabinete da Al Jazeera para a Palestina e Israel, Walid al-Omari, disse que este "crime" era mais um de uma "série de crimes perpetrados pelo exército israelita", em Gaza.
Israel não quer "apenas espalhar a destruição e a morte em Gaza, mas também silenciar os meios de comunicação social que veem, documentam e dizem a verdade sobre o que está a acontecer", adiantou, advertindo que tal "é obviamente impossível".
"Ambos os lados estão a pressionar para obter uma situação de vantagem, à medida que os esforços de cessar-fogo ganham força", adianta a mesma fonte.
A agência internacional norte-americana refere que "a última explosão de violência começou em Jerusalém e espalhou-se por toda a região na semana passada, com confrontos entre árabes e judeus e ainda tumultos em cidades mistas de Israel".
"Também houve protestos palestinos generalizados na sexta-feira, na Cisjordânia ocupada, onde as forças israelitas dispararam e mataram 11 pessoas", detalha a AP.
Desde segunda-feira que o movimento islamita dominante em Gaza - o Hamas - e Israel têm vindo a trocar disparos de e para o enclave palestiniano de dois milhões de pessoas.
Em Gaza, pelo menos 139 pessoas foram mortas, incluindo 39 crianças e 22 mulheres. Em Israel, oito pessoas foram mortas, incluindo um homem que foi atingido por um foguete que acertou Ramat Gan, um subúrbio de Tel Aviv.
Este aumento da violência tem levado ao medo de uma nova "intifada" palestiniana, numa altura em que as conversações de paz não existem há vários anos.
Os palestinianos assinalam, este sábaco, o Dia de Nakba (Catástrofe), quando cerca de 700 mil pessoas foram expulsas ou fugiram das suas casas nos territórios onde hoje se situa Israel, durante a guerra de 1948, o que faz aumentar os receios de mais agitação.
Os combates começaram em 10 de maio, após semanas de tensões entre israelitas e palestinianos em Jerusalém Oriental, que culminaram com confrontos na Esplanada das Mesquitas, o terceiro lugar sagrado do islão junto ao local mais sagrado do judaísmo.
O conflito israelo-palestiniano remonta à fundação do Estado de Israel, cuja independência foi proclamada em 14 de maio de 1948.